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A Garota no Ônibus



Ali estava eu, naquela fria noite de outono voltando pra casa de ônibus. Assim que entrei, me deparei com uma garota sentada na quarta fileira de bancos, na janela. Ela olhou para minha camisa – uma que havia ganhado de meu primo, do Guns N’ Roses – e esboçou um certo sorriso. Não sei se foi por causa da camisa, mas se foi, devia ter pensado que eu era um poser.

Sentei-me em um banco onde pudesse encara-la e observa-la durante o trajeto. Observei-a com seus fones escutando música (mas não tinha certeza se era realmente música). Tentei decifra-la por diversão. Por suas roupas, poderia dizer não ser “de igreja” e pelo estilo – short curto e blusa fina de mangas compridas – pude imaginar gostar de um estilo musical como pop, pop-rock ou até mesmo rock. A possível aliança no dedo de sua mão direita indicava um relacionamento mais fechado, e aparentava ter no máximo 16 anos. Tinha um rosto bonito, cabelos completamente negros e pele bem clara.

Durante todo o trajeto, a cada musica diferente ela esboçava uma reação. Com uma ela riu, outra apenas apoiou a testa na janela e observou a noite através do vidro e na ultima quase chorou. Percebi que a reação durante a ultima música foi meio instantânea, como se esta lhe trouxesse memórias ruins ou simplesmente lembranças de uma época feliz da qual sentia extrema saudade.

Ah é, já ia me esquecendo. Ela arrumava o fone em sua orelha a cada minuto, como se quisesse que este entrasse em seus tímpanos.

Seja qual for o motivo de sua reação, a garota me fez pensar que não importa o que havia acontecido ou estava acontecendo, ela só queria que a musica tirasse tais pensamentos de sua cabeça, queria que a música não a fizesse lembrar daquilo e por mais altos que os fones estivessem, não era o suficiente. Ela queria simplesmente esquecer tudo e viver uma outra vida.

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