Aquela Garota
- D. H. Lopes
- 18 de abr. de 2016
- 3 min de leitura
Parte 2.
A polícia chegou pela manhã. Encontraram os pais mortos no quarto e Juliana na cozinha, a beira da morte. A ambulância veio e levaram-na para o hospital municipal. Lá, após alguns exames, constataram o estupro e um traumatismo craniano causado por uma queda, além de cerca de 23 hematomas pelo corpo da garota.
A criança ficou em coma por quase uma semana, antes de despertar desesperada. Durante o coma, em um sonho, Juliana via os estupradores em forma de monstros e eles a devoravam viva, rindo. Aqueles risos. Esses sons nunca mais a deixariam ter uma noite de paz, nunca mais sairiam da mente da pobre garota.
Assim que acordou, ela pôde constatar que não fora um sonho. Estava em um hospital, com soro na veia e duas enfermeiras a olhavam.
- Vou avisar ao doutor Ribeiro que a paciente está acordando. Fique com ela – disse a enfermeira mais baixa.
A outra só assentiu e esperou a primeira sair do quarto.
- Onde eu to? – perguntou, precisando fazer mais esforço do que imaginou que precisaria. Sentia a garganta horrivelmente seca e dolorida.
- Está no hospital. Eu sou uma das suas enfermeiras. Pode me chamar de Cláudia.
- Eu sou Juliana – esforçou-se novamente.
- Eu sei. – disse a enfermeira esboçando um sorriso – Evite falar. Você ainda está muito debilitada. Economize suas forças. Vou pegar um copo de água para você e já volto. Não saia daí. – disse, brincando.
Juliana sorriu, mas somente por respeito. Não havia achado graça. Acompanhou a enfermeira deixar o quarto. De repente uma onda de memórias invadiu sua mente ainda frágil e ela começou a chorar. Lembrou-se dos seus pais. Haviam sido assassinados. E ela havia sido...
- Olá – disse um homem, de jaleco, com cerca de 40 anos entrando no quarto – Prazer em conhecê-la, pequena. Sou seu médico, doutor Ribeiro, mas pode me chamar de Marcos. – disse o médico beijando suavemente a mão da garota e fazendo uma referencia.
Juliana achou um pouco de graça, já que nunca havia visto alguém fazer aquilo, a não ser em filmes. Como não podia falar direito, ela somente sorriu e acenou com a cabeça.
- Você se lembra de alguma coisa? Do motivo de estar aqui? – perguntou o doutor.
Novamente a garota foi invadida por emoções. Acenou afirmativamente. Ela se lembrava muito bem o motivo de estar ali.
- Sinto muito pelo que aconteceu. – disse o médico com pesar. Quando ia falar mais alguma coisa, a porta se abriu e a enfermeira Cláudia apareceu com uma garrafinha de água em uma mão e um copo descartável em outra.
- Desculpe interromper doutor. – disse a enfermeira, rapidamente.
- Não tem problema. Vejo que está com sede. Tome um pouco de água e descanse. Mais tarde apareço para conversarmos, esta bem garotinha?
Novamente a garota só acenou. Quando tomou o primeiro gole de água, foi a melhor sensação que já sentira. Estava tão fresca, tão “molhada”. Desejou que a sensação nunca acabasse.
A outra enfermeira, a mais baixa entrou no quarto de repente.
- Cláudia, o doutor está te chamando – disse ela.
- Ok, estou indo. Cuide da pequena aqui.
- Pode deixar. – disse se aproximando de Juliana – Oi. Prazer. Sou Sandra, sua outra enfermeira. Mais água? – perguntou, enchendo pela metade o copo descartável.
Juliana tomou a água em um gole. A enfermeira sorriu.
- Vou te deixar sozinha um pouco, tudo bem Ju? Posso te chamar de Ju?
- Pode – respondeu Juliana.
- O doutor Marcos disse que você precisa que descansar. Tente dormir um pouco. Logo, logo ele virá conversar com você, ok?
- Ok
- Até mais Ju – se despediu sorrindo.
Juliana tentava dormir, mas era assolada por pesadelos envolvendo o acontecido. Sonhava com o abuso, com a morte dos pais e, principalmente, com os risos daqueles homens.
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