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Minha Morte




Meu nome é Daniel e hoje irei contar a história de como cheguei onde estou. Tudo começou cerca de uma semana depois do carnaval de 2008. Foi quando eu conheci o amor da minha vida e a causa de minha morte. Irei contar o que aconteceu o mais breve possível, mas querendo manter os detalhes. Seu nome era Ana Carolina e ela era de uma família de classe média alta, diferente de mim.

Nesse dia, quando a conheci, logo me apaixonei. Seu jeito louco, sua voz, seus cabelos e tudo o que ela tinha me encantaram. Começamos a nos falar e no dia 22 de março nós tivemos a oportunidade de se conhecer melhor e neste mesmo dia experimentei de seu beijo. Entre quatro e cinco meses era somente um caso de ficantes, mas no dia 2 de agosto ela aceitou meu pedido de namoro. Eu não sabia que neste dia eu havia assinado minha sentença de morte.

Tivemos momentos felizes, alegres, tristes e estranhos, assim como todo casal. Nossa relação era sincera e alegre. Na maior parte do tempo, fomos felizes, mas claro, com aquelas pequenas discussões por motivos bobos.

Com cerca de um ano de namoro sério, algo ruim aconteceu. Depois de uma de nossas discussões um pouco mais sérias que o normal eu me senti preso naquele relacionamento e precisava de espaço. Dominado pela raiva, saí bufando de casa e fui a um bar tentar me acalmar. Estranhamente o bar no qual ia a mais ou menos um ano se encontrava com mais mulheres que o normal e não demorou pra que uma viesse falar comigo. Dominado pela raiva nem senti remorso em dormir com essa mulher que mal conhecia.

No dia seguinte, assim que acordei e vi sobre a cama o corpo daquela mulher desconhecida, percebi a grande idiotice que tinha feito e fui falar com minha namorada. Disse a ela o que aconteceu e disse que não merecia outra chance, mas ela disse que foi somente um erro e que iria me perdoar. Eu estranhei, mas agradeci, pois a amava e não queria me afastar dela.

Chegamos ao meio da história.

Vivemos bem, ou quase, por mais uns dois anos, e uns meses antes de tudo acontecer, a desgraça começou.

Talvez fosse mesmo muito cedo, mas fiz sem pensar. A pedi em casamento. Ela, dizendo que estava cedo, disse que não queria. Conformei-me, pois a respeitava e não esperava logo de cara que ela dissesse “sim”.

Após o pedido, por algum motivo que desconhecia tudo se tornou mais difícil. Nos víamos pouco, brigávamos todos os dias e outras coisas aconteceram. E depois de um mês me cansei e pedi um tempo novamente. Ela disse que tudo bem, seria bom para que pudéssemos nos acalmar e repensar o que estava errado.

Fiquei feliz, de certa forma com essa breve separação, porém ainda sentia a falta dela sobre a cama todas as noites. Em meu trabalho numa empresa aqui perto havia uma mulher, chamada Rosana que volta e meia jogava umas cantadas para cima de mim. Nunca dei bola, mas nessa segunda separação, dei uma chance a essa Rosana.

Quanto a ela, não sei o que estava acontecendo. Nos víamos quase todos os dias e nos cumprimentávamos normalmente. Parecia estar tudo bem.

Durante esse pequeno tempo de separação ela tornou-se mais possessiva do que eu poderia imaginar. Como sei disso? Pois cerca de uns dois meses depois nós tornamos a voltar.

Agora o fim. A minha morte.

Vou dizer tudo o que lembro.

Estava em casa com ela e alguém bateu na porta. Não me lembro do dia e nem a hora. Como eu estava meio ocupado com umas coisas do meu serviço, ela foi atender. Depois de uns minutos na porta conversando com alguém que não sei quem é ela retornou chorando e foi direto para a cozinha. Não sabia o que havia ocorrido então a segui para saber o que havia acontecido. Assim que entro na cozinha vejo-a secando as lágrimas que caiam sem parar de seus olhos e percebo que tentou voltar a cortar os legumes sobre a pia. Perguntei o que havia acontecido e ela me disse que uma mulher tinha dito a ela que eu a traia há vários meses e lhe entregue várias fotos nas quais eu aparecia com a suposta amante. Contra os argumentos eu poderia lutar, mas contra as imagens não podia fazer nada.

Odeio admitir, mas eu realmente a havia traído com uma amiga de trabalho, a Rosana, durante a segunda separação, mas não parei de vê-la após Ana e eu voltarmos.

Eu a amava e não sabia o motivo de ter feito isso, foi o que eu disse a ela. Parece que não adiantou. Ela agiu rapidamente e sem que eu percebesse me esfaqueou na barriga. Urrei de dor e podia sentir meu sangue escorrendo. Olhei em seus olhos logo após isso e vi um olhar que nunca havia visto em seus olhos. Era um olhar que expressava ódio e desprezo. Tive medo.

Mas ela não parou só na primeira facada. Ela continuou com duas, três, quatro facadas e não parava. Cheguei a um ponto no qual não sentia mais nada e tudo o que senti foi ódio de mim mesmo e, estranhamente senti sono, mas sabia que aquele sono seria eterno. Em segundos não via mais nada, estava tudo escuro e eu só podia escuta-la chorando. Até que nem isso mais eu pude ouvir. Afundei-me nas trevas que lenta e dolorosamente me puxavam para baixo e aqui estou.

Apenas estou lhes contando isso para que saibam que me acho culpado de minha morte e que não a odeio. Mas quero apenas revê-la aqui comigo. Ou quem sabe, assistir sua morte e torcer para que seja mais dolorosa do que irá ser. Sei que logo a verei aqui comigo.

Contarei a seguir o que houve com ela após ter me matado.

Ela seguiu a vida. Não foi condenada devido a sua esperteza. Ela alterou a cena do crime, destruiu evidências e disse a todos que um bandido havia invadido a casa e tentado nos matar. Disse também que eu a protegi do tal bandido e por isso fui morto tão violentamente.

Mas vamos continuar.

Eu sempre a observava de onde estou. Percebi que ela continuou sua vida e após um tempo arrumou outro namorado, um cara chamado Paulo. Esse cara parecia legal, porém era mais obsessivo e possessivo que ela. Ele me assustava.

Em determinado momento ela sentiu-se como eu, presa àquele relacionamento desgastante. Buscou então uma saída. Sem que seu novo namorado soubesse, ela foi em busca de outros homens. E encontrou um. Deste cara eu não sei o nome, mas parecia uma pessoa mais caída, infeliz. Eles começaram a ter um caso e, admito, fiquei com dó do Paulo tentando descobrir o que estava acontecendo no namoro entre ele e a Ana. Após uns 5 meses, não sei ao certo, Paulo descobriu o que estava acontecendo. Descobriu que sua namorada, a mulher que me assassinou o estava traindo. Embora ele fosse um homem possessivo, não esperava a reação que ele teve.

Ele calmamente a fotografou várias vezes e no dia seguinte revelou as fotos. Como uma vingança, ele postou as fotos no perfil dela, no Facebook com descrições dizendo que ela não passava de uma piranha, uma vagabunda. Mas não paramos por aí. Ele invadiu a casa dela, esperou que ela chegasse com o amante. Assim que ela chegou com o seu companheiro, ele já os aguardava.

Quando eles chegaram, Paulo simplesmente sacou uma arma e apontou para eles. Mandou que se calassem ou atiraria e então ordenou que seguissem para o quarto.

Lá no quarto, ele discursou sobre “o quão vadia você é, Ana Carolina” e em seguida mandou que se ajoelhassem. Ele calmamente encostou o cano da arma na nuca do rapaz e disparou. Só se viu os miolos voando pelo quarto.

Ela começou a implorar para que ele não a matasse e ele disse pra ela se acalmar, pois o que iria fazer seria pior do que isso. Apontando a arma para ela, ela mandou que se levantasse e seguisse para a cozinha.

Chegando à cozinha, ele pegou a maior faca que viu e foi em direção a ela. Chegando bem perto, pude perceber que ele sussurrou algo nos ouvidos dela e no mesmo instante seus olhos se esbugalharam.

Calmamente ele forçou a lâmina da faca contra a barriga dela, até que a lâmina atravessasse sua pele e a perfurasse. Ele então girou a lâmina, fazendo-a gritar de dor. E assim como ela fez comigo, ele a esfaqueou inúmeras vezes.

Daqui de onde estou fiquei observando a morte dela, calmamente. Logo logo ela chegará aqui. Primeiro é preciso que ele pare de esfaqueá-la e só assim poderei revê-la nas profundezas do inferno.

Ah sim, gostaria de agradecer ao Paulo por manda-la até mim.



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