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Noite Longa



Deitado nesta cama, embaixo dessas cobertas, olhando para o teto procurando o nada, sinto-me imerso nas trevas que me puxam incessantemente para baixo e eu travo uma batalha violenta contra o sono, mas o silencio ensurdecedor não me ajuda.

A todo momento vultos passam nas paredes. É como se eles me observassem. Sinto-me com medo, e esse medo me impede de mover sequer um músculo de meu corpo. Olho para o relógio sobre a porta e percebo que ele marca meia-noite e quinze. Volto a observar o nada e o nada volta a me observar.

Depois do que me pareceram horas, volto a olhar o relógio e percebo que apenas 20 minutos se passaram.

Por um breve tempo me entrego ao sono, porém um barulho faz com que eu acorde. Procuro a fonte de tal barulho e percebo que algo derrubou um dos porta-retratos que estavam sobre minha cômoda. Procuro por seja lá o que for que havia derrubado meu porta-retratos, mas vejo-me sozinho no quarto. Volto a me entregar ao sono e novamente acordo, mas desta vez por um reflexo. Olho rapidamente em volta e vejo mais vultos do que achei que veria. Contei ao mínimo uns seis. Seria “normal”, se eles não estivessem juntos, parados um ao lado do outro, como se me observassem enquanto durmo. Novamente observo o relógio sobre a porta e vejo que o tempo passou, mas não tanto quanto eu esperava. O relógio marcava duas e meia da manhã. Sem coragem pra levantar da cama e arrumar o porta-retratos, volto a olhar o teto.

Não me atrevo a olhar para baixo, pro maldito guarda-roupas encostado na parede com espelhos nas portas. Espelhos não me atraem durante a noite.

Volto então a encarar o teto.

Com o canto do olho, percebo um movimento ao lado da minha cama e me viro rapidamente pra observar, mas não vejo nada. Parecia que uma mão estava sobre o colchão, mas aparentemente me enganei. Novamente olho para o relógio e percebo que ele chegara a marcar três da manhã. Finalmente parecia que o tempo estava passando.

Adormeci novamente e, ao que me pareceram horas depois, acordei com um barulho muito alto, como se algo pesado tivesse caído no chão. Olho assustado ao redor do quarto procurando o que poderia ter causado tal barulho estrondoso. Não encontro nada, tudo estava onde deveria estar. Mas por um momento, olho pro guarda-roupa e vejo o reflexo de algo que me parecia um homem com roupas todas rasgadas e com sangue por todo o corpo. No mesmo instante volto a deitar e olhar pro teto, tentando tirar tal imagem assustadora de minha mente. Olho instintivamente para o relógio e já marcava quatro da manhã. Finalmente o dia estava prestes a amanhecer.

Fecho os olhos tentando recuperar o sono, mas parece que ele fugiu completamente de mim.

Sem conseguir dormir, olho fixamente para o teto e novamente vejo algo sobre na cama com o canto dos olhos, mas dessa vez não foi só uma impressão. Uma pequena aranha havia caído sobre a cama e me assustado.

Novamente olho o relógio e vejo que a hora havia passado de pressa, pois o relógio marcava quatro a cinquenta e cinco da manhã. Logo logo os primeiros raios de Sol iriam invadir meu quarto e me livrar das trevas.

Mas antes que eu pudesse apreciar tal feito, algo sobe em minha cama e percebo que é uma mão quase sem pele e a mesma tampa a minha boca, me impedindo de gritar e até mesmo de respirar. Sinto como se a cama se abrisse e percebo que realmente estava se abrindo. Onde havia o chão, só havia trevas e várias outras mãos surgiram para me puxar. Estava ficando sufocado, quase perdendo a consciência, fechando os olhos lentamente, mas de repente tudo some e percebo que era tudo um sonho.

Olho ao meu redor querendo saber se era tudo um sonho mesmo e vejo o porta-retratos caído e sem motivo olho para o relógio e ele marcava duas e meia da manhã, vejo os vultos reunidos e instintivamente olho para o guarda-roupa e vejo o mesmo reflexo que havia visto antes, o mesmo homem com as mesmas roupas rasgadas e sangue pelo corpo. Tudo foi só um dejá-vu...



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