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Felicidade parte. 2

  • Filipe N.O
  • 6 de fev. de 2017
  • 3 min de leitura


- Sabe, andei pensando, a vida é uma mudança infindável. Percebi que tenho a necessidade de me realocar, me replicar, me estraçalhar para então me reconstruir com materiais mais resistentes, que no fim tudo se resume a adaptação. Minha casa agora tem uma sustentação mais profunda, e a aperfeiçoei, cada detalhe foi minuciosamente pensado para suportar o mais forte dos furacões.

- Que bom que voltou para continuarmos nossa conversa. Interessante percepção a sua, está se preparando, se fortificando. Mas então, já sente que sua casa está apta para o que der e vier?

-Na verdade, essa foi a conclusão a que cheguei, mas a casa mesmo precisa de uma segunda mão de tinta, aparar as gramas, passar por uma reparação estética, talvez uma lareira para me proteger do frio da ignorância.

-Sabe o que tem além de sua casa? Um porão, lá naquele canto escuro está sua consciência, e é bom abrir a pequena e única janela para deixar que a luz entre e faça sua consciência aparecer por completo. Nesses momentos de visita procure observá-la, mas observe cada detalhe, do que ela é feita, qual a sua cor, veja se ela não se importa com a luz que a denuncia, se se importa de você sugerir algumas mudanças.

-Quanta metáfora (risos). Acredito que se refere ao ato de refletir e olhar para a própria consciência. Sim, sou autocrítico, às vezes tenho a impressão de que minha consciência é imensa, mas também confusa e limitada.

-O segredo é ser sensato, mas não há um manual de instruções para aprender a subjugar sua própria consciência, se não procura manter o hábito de olhar para si mesmo, de apontar o que está errado, estará fadado a se perder entre frustrações e arrependimentos.

-Percebi algo em mim, percebi um medo. Tenho medo de perder a vontade de viver uma vida interessante, me esforçar para ter uma vida que vale a pena ser vivida. Medo de ser mais um nesse cenário cinza onde as pessoas rastejam em suas rotinas que roubam a vitalidade e capacidade de ver e desejar algo maior e melhor. Mas também percebi o lado bom, esse medo é o que me mantém no caminho para ser alguém melhor.

- Você é seu melhor exemplo, veja bem, em determinadas fases da vida agimos de tal forma, mas o comportamento humano é imprevisível é mutável, acabamos por mudar nossas formas de pensar, nossa moral, o modo de olhar para as coisas, e essa variabilidade é indispensável para o crescimento, pois o medo cai por terra quando você aceita seus demônios.

- E penoso, mas estou mais motivado, porque no ponto onde estou a neblina está mais rarefeita, ainda não sei dizer se sou verdadeiramente feliz, não vivi todas as malezas da vida ainda, por isso no meu caso me falta ser grato.

- A construção de sua casa levará o tempo necessário, mais ou menos toda sua vida, você encara seu caminho como uma batalha, e não está errado, mente aquele que diz possuir toda sabedoria, a parte de ser feliz está em você se perceber como um indivíduo comum, é mais uma cabeça dentre bilhões de outras, é mais um átomo nessa pequena galáxia, e acredito que esta auto consciência diminuem as chances de você se perceber perdido e confuso.

- Também penso assim, farei dessa minha vida finita uma caminhada consciente, tudo o que temos são as histórias que criamos. Nesse momento a conversa acabou, o último a falar ficou sentado enquanto o que estava ouvindo já estava indo embora. Antes de sumir de vista, o que estava sentado gritou:

- Da última vez disse que me diria se encontrou sua felicidade na nossa próxima conversa, e então?Ao ouvir a pergunta ele virou lentamente sua cabeça para trás com um olhar controverso fitando o chão. Depois mudou sua atenção para o outro ainda sentado e disse:

- Você é quem me diz, acorde!Ele desapareceu, assim como tudo ao redor, mesmo que todo o tempo que passou ali não tenha visto nada. Acordou em uma maca com um meio sorriso no rosto e com um olhar controverso.


 
 
 

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